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SERGIPE, CORONAVÍRUS E O CONSÓRCIO DO NORDESTE

O desafio de usar instrumentos sociológicos para entender o Estado de Sergipe é um esforço intelectual complexo. Como entender um processo de desenvolvimento que nunca se completa? Será que vamos ficar eternamente reféns do governo federal? É possível construir alternativas de desenvolvimento nascidos no interior da nossa sociedade?  Com certeza não existe resposta fácil, porém o impacto da pandemia coronavírus pontua alguns caminhos.

A partir de 2007, Sergipe começa um novo projeto de desenvolvimento, a partir do planejamento regional. O sonho de um fortalecimento regional deixa de ser acadêmico/universitário e passa a prática política, tomando conceitos geográficos/culturais/econômicos como instrumentos de desenvolvimento social e de políticas públicas.  Sem entrar especificamente em considerações sobre a lentidão e muitas vezes até abandono político do projeto original ao longo dos anos subsequentes. É necessário salientar que já construímos tecnologias sociais de Estado, fundamentais para construirmos o pós-guerra contra a Covid-19.

A crise mundial de 2008, e suas consequências tardias e lentas em Sergipe, a partir de 2012 (coincidindo com o tratamento de quimioterapia do saudoso governador Marcelo Deda, que morre em 02 de dezembro de 2013, decorrente de câncer no estômago e pâncreas), trouxe profundas mudanças em todo o setor de petróleo e derivados, e, como efeito dominó, abalou fortemente o setor da construção civil. Os dois pilares de inovação e arrecadação formam totalmente abalados. Por exemplo, olhando fatores externos, o Governo Jackson Barreto começa dentro de uma profunda crise econômica e termina dentro de uma profunda crise econômica. Jackson Barreto entrega o governo dentro da crise a Belivaldo Chagas e o atual governador se depara com uma crise econômica e de saúde, com a pandemia. A clareza na análise da natureza de nossas dificuldades (guerra fiscal, desindustrialização,  reestruturação produtiva, baixa capacidade expansionista de nossas construtoras, expansão desqualificada dos setor de serviços, etc.) é o primeiro passo para construirmos soluções. No entanto, um ponto bastante positivo é termos mantido um equilíbrio político, com perspectiva favoráveis, no pior momento histórico de Sergipe.

Mesmo com todas as contradições inerentes ao funcionalismo público, que leva muitas vezes a perda de objetividade dos agentes públicos em nome de uma luta contra os políticos (caindo no jogo de autodestruição, em nome do combate à corrupção). Sergipe tem um corpo técnico qualificado nas diversas áreas – administração, agropecuária, desenvolvimento econômico, educação, saúde, assistência social,  segurança pública – que consistem num fundamental aparato para retomada econômica. Principalmente se conseguimos integrá-lo num projeto Estadual, em conjunto com o pensamento científico de nossas universidades. Por exemplo, nossas redes de saúde e de segurança, coordenadas pelas secretarias de Estado, têm combatido com firmeza e competência inquestionável a expansão e os efeitos do coronavírus.  Também  podemos avançar em outras áreas, em projetos específicos nas microrregiões.

De forma geral, a pandemia pode mudar a atitude dos agentes públicos (políticos e funcionalismo público). Com certeza, em Sergipe, há uma crise do funcionalismo público, mais do que uma crise política. Os servidores deixaram de acreditar na produtividade, que são eles que podem promover soluções avançadas (eficácia e eficiência com efetividade), que é somente a partir deles que podemos construir o “Estado empreendedor”, ou seja, uma força motriz para o desenvolvimento que coordene as diversas cadeias produtivas (antigas e novas) e para incentivar inovações públicas e privadas.

Como referência possível da construção desse novo momento, temos o Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste (Consórcio Nordeste), uma forma que os nove Estados da região encontraram para a construção de parcerias nas áreas de infraestrutura, social, econômica, política, tendo como principais objetivos aumentar a integração com: investimentos, cooperação, compras e vendas de produtos e serviços. Como uma construção recente, está em processo de formação, necessitando uma integração maior com a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) e com o Banco do Nordeste, além do aprimoramento de processos e fluxos. Sem dúvida, o Consórcio é algo inédito e fundamental para a região. De forma empírica, é inegável a importância do comitê científico, liderado pelo professor Miguel Nicolelis, juntando mais de dois mil pesquisadores, no combate a covid-19 e na produção de conhecimento regional fundamental para futuras políticas públicas.

Em Sergipe, já existe precariamente o consórcio da grande Aracaju, tratando de forma isolada temas como: transporte e saneamento. No entanto, é urgente formar mais consórcios nas microrregiões e transformá-los em instrumentos de “empreendedorismo de Estado”, projetando riscos e garantias para o empreendedorismo individual. As especificidades das cidades não garantem mais desenvolvimento. Como modelo é fundamental a criação de uma consórcio Itabaiana-Lagarto (agreste/centro sul) e Estância-Tobias Barreto (sul/centro sul) com agentes públicos pensando a integração regional, por exemplo, Tobias Barreto com praias e Itabaiana com uma universidade na área de saúde, dentre outras parcerias possíveis. Assim, podemos fechar Consórcios em outras regiões com orçamento e busca de resultado de integração.

A terrível situação de combate a covid-19 mostra a fragilidade do setor privado em empreender soluções que garantam estabilidade econômica em meio ao caos sanitário. Não é possível sustentar a economia sergipana por meio de um setor de comércio e serviços precarizado, com pouca inovação tecnológica. Então, é hora de chamar a responsabilidade do setor público. Com a descoberta de novos campos de gás natural, com a estabilidade política conquistada desde 2007, com consórcios que favoreçam projetos de investimento, cooperação, compra e vendas de produtos e serviços dentro de microrregiões, temos esperança em dias melhores pós-pandemia.  Sergipe poderá se integrar mais a toda região nordeste, ao mesmo tempo em que melhora mais a vida de seu povo.

 

Por: Horimo Medeiros / Graduação em Ciências Sociais – Bacharelado (UFS-2005). Graduação em Ciências Sociais – Licenciatura (UFS-2007) e Mestrado em Sociologia (UFS-2009) – Imagem Por: Governo da Bahia

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